quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O que importa não é o que temos e sim quem somos e quem amamos.

UM NATAL SEM TELEVISÃO




Maria Hilda de J. Alão.


       - Ora, mamãe! Não fique triste porque a televisão queimou!






        Foi assim que disse, consolando a mãe, a menina Lucinha. Viúva há pouco tempo, dona Amélia lutava com dificuldades para sustentar os três filhos: Lucinha, Marquinhos e Luiquique. Luiquique é o caçula. Na verdade o seu nome é Luiz Henrique, só tem três anos e é muito agarrado a sua irmã Lucinha de seis. Dona Amélia, sentindo a falta do marido, dizia.



        - Hoje é Natal e não temos aquela alegria de antes. Não temos seu pai para cantar e brincar. A casa está escura. Não tenho vontade de acender a árvore de natal nem de falar com ninguém e a televisão achou de pifar logo hoje. Não podemos ver os especiais de Natal nem de Ano Novo. Oh, meu Deus!



        Mas as crianças eram a alegria em pessoa e suas almas, forjadas a partir de uma centelha de Deus, tiveram uma idéia. Tendo Lucinha à frente, eles foram a procura dos seus jogos de brinquedo, e imploraram à mãe que jogasse com eles. Jogaram o “jogo da velha”, “batalha naval”, “jogo da memória”, “alfabeto português”, “monte sua árvore de natal”.



        Riram muito quando a mãe tentava montar, com as formas geométricas, a figura de um palhaço, ela sempre errava. Disseram “Oh!” todos juntos quando a mãe acertou pintar todos os animais de número ímpar. No quebra-cabeça “corpo humano”, eles rolaram no chão de tanto rir, quando a mãe pôs o joelho na cabeça da figura. No joguinho “sopa de letras”, ah! Neste então nem se fala. “Vamos encontrar a palavra “pato”. “Não, mãe, é p a t o”. Dona Amélia ria da sua dificuldade em lidar com os jogos das crianças. Depois, um pouco mais habituada, começou a errar de propósito só para ouvir a gargalhada cristalina dos filhos.



        A filha reparou que a mãe estava mudada. A mulher se levantou do chão, acendeu a árvore de natal, colocou a estrela que faltava na ponta da árvore e até se esqueceu da televisão. Já era noite. O jantar foi servido com alegria e muita algazarra por parte das crianças que recitavam a uma só voz, batendo os garfos nos pratos:

“Peru ru ru, hoje eu como tu!


Com farofa ou com angu


Bem aqui na minha mesa


Com suco de framboesa.”


        Terminado o jantar, louça lavada e cozinha arrumada, foram todos para a sala. Lucinha ligou a vitrola antiga e colocou seu disquinho de cantigas de Natal, presente de seu pai. Todos cantaram. Lucinha ficou encantada com a voz da mãe acompanhando a canção Noite Feliz. Fazia algum tempo que ela não ouvia a mãe cantar. Fez os irmãos ficarem quietos para que a voz de dona Amélia aparecesse melhor. Estavam emocionados e, quando terminou, as três crianças correram para ela e lhe deram aquele abraço que elas chamavam de “abraço de urso”.


        Com os três filhos abraçados a ela, dona Amélia perguntou:

        - Quem vai querer panetone, nozes e castanha?


        O grito foi um só: - euuu...



        O delicioso panetone, feito pela vovó Anita, quase foi devorado na sua totalidade. – Crianças, deixem um lugarzinho no estômago para abrigar as castanhas. – recomendou a mãe. Depois ela lhes contou a história do Natal de Cristo e, por volta das vinte e três horas, as crianças, cansadas, foram levadas para a cama.

 
        - É hora de dormir com os anjos, minhas crianças. – disse a mãe.



       - Então, mamãe, você ainda está triste por causa da televisão? – perguntou   Lucinha dando um beijo em dona Amélia.


       - Não, minha querida. Quem tem o que eu tenho, não precisa de televisão. Pra quê? Este dia de hoje eu vou guardá-lo pela eternidade afora. Nunca me senti tão feliz e alegre como neste Natal. Amo vocês crianças!


       E beijando cada um deles, dona Amélia foi para o seu quarto rezar pelo marido e agradecer a Deus pelos filhos que Ele lhe deu.


FONTE: http://www.contos.poesias.nom.br/umnatalsemtelevisao/umnatalsemtelevisao.htm